Viagem ao infinito

Viagem ao infinito
Fotografia: Tiago Canoso e João Pedro Pinto

Este verão surge em Viseu um conceito inovador.

A arqueologia une-se às viagens turísticas e cria-se um pacote completo em que o seu guia é também a pessoa que “desenterrou” o monumento que está a ver. Imagine-se a fazer uma visita guiada a um monumento com especialistas que lhe contam a história por detrás de cada pedra. A Descla entrevistou Fátima Costa, sócia gerente da EON – Indústrias Criativas, e Pedro Sobral de Carvalho, director executivo da mesma empresa. Arqueólogos de profissão, lançam agora uma agência de viagens com um conceito diferente – a Neverending.

Descla (D.) – Como surgiu a ideia de criar a Neverending?

Fátima Costa (F.C.) – Somos arqueólogos e no âmbito dos traba lhos que desenvolvemos achamos que há “coisas” que têm demasiado interesse para ficarem fechadas num relatório. Então pensámos que o ideal seria fazer visitas guiadas onde mostramos não só a história dos lo- cais, mas também pormenores escondidos que apareceram em con- textos arqueológicos.

Pedro Sobral (P.S.) – A Neverending surge como uma tentativa de resposta a uma procura crescente que sentimos um pouco em todo o país. Sabemos inclusivamente que os operadores turísticos europeus procuram novos destinos, uma vez que os do Oriente estão em crise. Temos de eleger os produtos que temos e que são bons, como os dolmens com pinturas únicas no mundo, os castros do noroeste peninsular, o Côa, que é património da humanidade, e mostrar às pessoas com os olhos de quem sabe.

D. – De onde surgiu o nome Neverending?

P.S. – No fundo é uma forma de dizer que as pessoas podem entrar num mundo mágico ao fazer estes percursos.

F.C. – Vem na sequência do nome da empresa mãe, EON, que define a maior subdivisão de tempo na escala do tempo geológico. A Neverending vem na sequência do infinito.

 

D. – Em que consiste o projecto?

F.C. – A Neverending vai ser uma operadora turística. Vamos começar em Viseu com quatro citybreaks. O primeiro é o “De Vissaium a Viseu” onde se conta a história da cidade desde as suas origens até à atualidade, o segundo “Do alcácer ao acampamento: Viseu no Tempo dos muçulmanos” que consta de uma visita guiada à Cava de Viriato. O terceiro é uma visita à Sé e ao museu Tesouro da Sé. E o quarto, “Madeira e ouro: a opulência da arte religiosa” é um percurso pelas igrejas da cidade. Este é o início mas a nossa ideia é exportar para outras cidades, sempre com produtos centrados na história e na arqueologia. Outro produto são os tourings através dos quais se visitam muitos sítios e monumentos fora das cidades, vistamos dólmens, castros, arte rupestre, castelos, fortes, igrejas, etc.

D. – Quem vai ser o público-alvo?

P.S. – Pretendemos preferencialmente apostar no público estrangeiro, da classe média, que procura novos desti- nos. No entanto, a estratégia passa igualmente por abranger o público nacional.

F.C. – Também queremos apostar no turismo acessível. Achamos muito interessante fazer visitas guiadas com linguagem gestual. Este público viaja bastante.

D. Qual é a duração média dos percursos?

P.S. – Hora e meia a duas horas para os percursos urbanos. Os tourings são mais extensos, podem, inclusivamente, demorar até uma semana, dependendo do pacote pelo que se opta.

D. – Vão ter parcerias com entidades?

F.C. – Pretendemos criar sinergias, nomeadamente com produtos tradicionais, produtos gourmet e restaurantes com pratos típicos da região ou locais onde se podem fazer provas de vinhos.

P.S. – Iremos também criar parcerias com algumas autarquias para que os monumentos que queremos visitar estejam limpos. Interessam-nos igualmente parcerias com os diversas tipos de alojamento turístico como hotéis, pousadas, turismos em espaço rural ou de natureza, pois muitos deles necessitam de complementos à sua oferta.

 

D. – Este conceito ainda não existe em Viseu e no país?

P.S. – Com o nosso conceito não existe. Não vamos ser agência de animação turística, vamos ser agência de via- gem, o que nos permite organizar pacotes completos.

 

D. – Quando prevêem que seja a abertura?

P.S. – No verão. Está muito dependente da abertura de um espaço físico no centro histórico.

 

D. – O que vão disponibilizar nesse espaço físico?

F.C. – A loja irá ter uma linha de merchandising, algum artesanato local, mas servirá sobretudo de apoio a uma rede de alojamento local que estamos a criar, num con- ceito de cityflats. O primeiro destes espaços está pronto. Trata-se de um Historic apartment, localizado na Calça- da da Vigia, que chamámos de Casa da Vigia, decorado com alguns apontamentos sobre a história da cidade, um espaço intimista, contemporâneo e confortável.

P.S. – Conhecemos pessoas que vêm de fora e que prefe- rem ir para um ambiente destes do que ir para os hotéis. Estes apartamentos acabam por dar a intimidade necessária.

 

D. – Qual vai ser a ligação entre a empresa mãe EON e a Neverending?

F.C. – A EON tem três valências: os museus e espaços expositivos, em que apostamos numa museografia

da nova geração, a arqueologia, em que fazemos traba- lhos e estudos arqueológicos, desde escavações e acom- panhamentos à consultadoria ou a recuperação e valori- zação de sítios e monumentos. A terceira valência é a da gestão do património cultural, onde fazemos estudos de promoção e divulgação, cartas patrimoniais da nova ge- ração, sinalética, percursos pedestres e rotas. Ora, todas estas áreas se encontram intimamente relacionadas com o turismo temático que irá arrancar a curto prazo.