Marionetas do Porto estreiam Jardineiro Imaginário a 31 de Março

Marionetas do Porto estreiam Jardineiro Imaginário a 31 de Março

O regresso d’ As Marionetas do Porto ao palco do Teatro de Belomonte faz-se sob o signo do diálogo entre o real e o imaginário (ou vice-versa). Assim, no próximo dia 31 de Março, quinta-feira, a estreia da nova criação da companhia destina-se neste caso ao público adulto. “Jardineiro Imaginário” assume a condição de mais recente trabalho do colectivo teatral e suscita, desde logo, na sua densidade poética, um conjunto de reflexões.

Isabel Barros, a directora artística da companhia, tributária do conceito da peça, bem como da encenação do “Jardineiro Imaginário”, consagra essa atenção cénico-dramatúrgica à faixa etária mais crescida por via de um recurso evocativo: “É dedicada aos adultos numa tentativa de os transportar a territórios diversos onde possam ecoar inquietações, pensamentos, matérias soltas, pedaços de vida numa espécie de coroa circular.”

Por conseguinte, aquilo que o público vai poder desfrutar - numa temporada cuja extensão temporal se prolonga até ao dia 16 de Abril, - resulta também de um exercício introspectivo que Isabel Barros desencadeou na matriz do projecto, quando o contexto pandémico tornou imperativo o isolamento da sociedade civil. Para lá dessa ‘reclusão criativa’, o labor da peça tem os contributos de alguns poemas do universo literário mais afecto ao movimento surrealista de língua francesa, contemplado nas páginas da antologia “O Sonhador Definitivo e a Perpétua Insónia”, cuja tradução é de Regina Guimarães, que assina igualmente os textos originais de Jardineiro Imaginário. Entre os autores da verve poética surrealista, contam-se Jean Arp, Robert Desnos, Camille Coemans e Paul Nogé.

Em palco estarão Micaela Soares e Vítor Gomes, os intérpretes, num cenário metafórico em plano inclinado e a fazerem uso de marionetas e dispositivos cénicos que sugerem lugares e presenças através de materiais reutilizados, como prova disso mesmo verifica-se o reaproveitamento do papel utilizado no trabalho artístico que antecedeu o “Jardineiro Imaginário”, conferindo desta forma um tópico de sustentabilidade à concretização em cena do projecto. Há viagens oníricas, e um jardineiro que, entre múltiplas coisas que faz, nos conduz a lugares imaginários e se dispõe a semear estrelas e a caçar sombras e as plantas que por ele são deitadas à terra, existem apenas no domínio da fantasia.

“Jardineiro Imaginário” apresenta-nos um ser híbrido, que emerge de uma fusão entre o universo vegetal, animal e mineral - na essência um ser que é a soma deste vértice de características. A peça é uma intensa viagem interior cujo mote, a proposta, é escavarmos sobre nós próprios nunca dissociando disso a relação que estabelecemos com o mundo que nos rodeia.

A peça também é no seu cerne um puzzle orgânico e estrutural produto de um colectivo dinâmico e criativo. Contando com toda a equipa da companhia; actores, Micaela Soares e Vítor Gomes, desenhador de luz, Filipe Azevedo, construção das marionetas, João Pedro Trindade e Catarina Falcão e produtora, Sofia Carvalho. E com colaboradores convidados, Ricardo Leite, autor das marionetas, Regina Guimarães autora dos textos e Carlos Guedes, compositor, que colabora com Isabel Barros há vinte cinco anos e que viajou expressamente de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde reside para participar neste trabalho artístico.