Miguel Bonneville homenageia Marguerite Duras numa estreia absoluta no Teatro Viriato

Miguel Bonneville homenageia Marguerite Duras numa estreia absoluta no Teatro Viriato
Fotografia: Bonneville

“A Importância de Ser Marguerite Duras”, de Miguel Boneville estreia, no Teatro Viriato, no dia 05 de novembro, às 21h00. A performance finaliza o projeto de Bonnevile intitulado “A Importância de Ser”, iniciado em 2013, e toma como ponto de partida Marguerite Duras, escritora, cineasta e dramaturga francesa, cuja obra é habitada por personagens em busca de amor até aos limites da loucura ou do crime.  
 
“O ciclo "A Importância de Ser" começou em 2013, com... "A Importância de Ser António de Macedo". Começou por uma necessidade de tentar perceber como é que eu recomeçava uma nova fase de trabalho, uma vez que o anterior tinha sido um ciclo também de nove performances. Sendo que a última delas tinha sido uma encenação do meu funeral ou do funeral de um alter-ego meu. Procurei tentar perceber como é que eu podia recomeçar, falando sempre a partir da minha história. Sempre de um ponto de vista autobiográfico, mas neste caso, através da biografia e da obra de outras pessoas. Foi através do filme "As Horas de Maria", que eu fui ver à Cinemateca, um bocadinho sem saber o que ia ver. Fiquei completamente arrebatado pelo filme porque não conhecia as obras do António de Macedo. E a partir daí percebi que o caminho era por aí. Era começar a trabalhar a partir de autores, de artistas, de pensadores que, de alguma forma, tivessem um impacto mais longínquo, não no meu percurso, mas que tiveram um impacto suficientemente forte para eu querer partir das vidas e das obras dessas pessoas para criar”, explica Bonneville.
 
Depois de António Macedo, seguiu-se neste projeto Simone de Beauvoir, Agustina Bessa-Luís, Paul Preciado, Georges Bataille e Alan Turing. Para a sua última performance deste ciclo, o artista procura prestar uma homenagem a uma das artistas que mais influenciou o seu processo criativo.
 
“A Marguerite Duras é a pessoa que influenciou o meu trabalho desde o início. Começou tudo por quase uma casualidade de eu mostrar algumas coisas que estava a escrever na altura em que tinha entrado para a escola de teatro, a uma colega minha, e ela fazer uma espécie de associação daquilo que eu tinha escrito com a obra da Duras, que eu nunca tinha lido. Isto foi por volta dos 15, 16 anos e a partir daí, depois de ter comprado o "Amante" para ler, senti um arrebatamento muito forte e a partir daí nunca mais parei de ler Duras, afirma reforçando que também por isso sempre teve receio de trabalhar a partir da sua obra. “O trabalho dela, foi aquilo que mais me influenciou até hoje. E, por isso mesmo, sempre tive muita reticência em pensar sequer, em pegar na obra dela para fazer fosse o que fosse. Quando estava a fazer o espetáculo, a "A Importância de Ser Georges Bataille", como eles eram amigos, voltei a um texto que Duras tinha escrito sobre ele. A partir daí pensei que não podia acabar este ciclo de espetáculos sem lhe fazer esta homenagem”, refere.
 
Habitado por corpos que se questionam sobre o amor até aos limites da loucura, que se ouvem, mas não são vistos, e vice-versa, este espetáculo revela uma forma particular de apropriação da obra de Duras. Inevitavelmente assente numa indistinção entre arte e vida, “A Importância de Ser Marguerite Duras” é um espetáculo sobre um estado de reflexão literal e figurativo, onde “o drama inteiro está nas palavras e o corpo é impassível”. 
 
Bonneville, a partir do cruzamento entre escrita, vídeo e som, e do seu habitual experimentalismo, procura uma libertação através de ideias que rondam a morte. 
 
“No caso dela, e acho que no meu também, muito influenciado por ela, provavelmente, não há uma distinção entre géneros, ou seja, ela escrevia livros que eram guiões de cinema, que eram peças de teatro que viravam livros, ou escrevia filmes que depois adaptava para serem livros. Portanto, ela moveu-se sempre em zonas híbridas. Eu acho que o meu espetáculo, e as minhas obras em geral, passam por essas zonas e por esse cruzamento de disciplinas. O espetáculo acabou por tomar uma via mais cinematográfica, talvez, ou seja, é muito baseado em vídeo, em imagem filmada. Apesar de eu ter começado a trabalhar através do texto. Normalmente, os meus espetáculos são acompanhados de um livro com todos esses textos que eu fui escrevendo ao longo do processo. Portanto, há um livro associado ao espetáculo. Além disso, o espetáculo foi começado a construir a partir do som, com o Mestre André”, explica o artista.
 
Em palco, vamos ter a oportunidade de ver a estreia de uma proposta nada convencional.
 
“Se calhar, às vezes as pessoas estão à espera de uma história sobre estas figuras, mas como são todas bastante conhecidas, ou quase todas bastante conhecidas, eu acho que não faria sentido eu contar uma história que é de fácil acesso. Portanto, aquilo que o que eu procuro é evocar uma história, em vez de a representar, portanto, criar atmosferas a partir das vida e das obras destas pessoas e no encontro delas com a minha visão e com aquilo que elas me inspiram, na verdade”, remata.

O espetáculo, que é uma coprodução do Teatro Viriato, do Teatro do Silêncio e do Theatro Circo, conta com interpretação de Bruno Senune, Oak Kristopher e Tânia Pena, vozes de Afonso Santos e Vanda Cerejo, música original de Rodrigo Duran e sonoplastia e desenho de som Mestre André. Os bilhetes já se encontram à venda na bilheteira física, no site do Teatro Viriato e na BOL.