Corvo apaga as luzes para salvar aves marinhas

Corvo apaga as luzes para salvar aves marinhas
Fotografia: Tânia Pipa

Pelo quarto ano consecutivo a ilha do Corvo dá o exemplo e apaga a iluminação pública para salvar Cagarros (Calonectris borealis) de 24 de outubro a 30 de outubro. 

No período mais crítico para esta espécie, quando os juvenis abandonam o ninho, o Corvo desliga as luzes a partir das 21h para minimizar o impacto da poluição luminosa. O Corvo desliga ainda a iluminação pública a partir da 01h de 21 a 23 de outubro e de 31 de outubro a 10 de novembro. Esta medida pretende proteger a ave marinha mais emblemática da Macaronésia e minimizar o impacto da poluição luminosa, sensibilizando para esta problemática.  

Esta iniciativa da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e da Câmara Municipal do Corvo, foca-se no período de saída de cagarros juvenis do ninho. Estes juvenis, que são voadores inexperientes, ao abandonar o ninho têm tendência a ser atraídos pela luz, desorientando-se e acabando por cair por terra, podendo ser predadas por cães e gatos, perecer por colisão e desidratação.  


Este ano, o apagão geral da iluminação pública será medido por um Laboratório de Poluição Luminosa, através da rede de fotómetros instalados na Vila do Corvo, que mede o brilho do céu e noites naturais. Isto permitirá aumentar o conhecimento sobre o efeito da poluição luminosa nos juvenis de cagarro. Serão marcados 4 juvenis de cagarro com marcas GSM GPS, para avaliar o seu comportamento na presença de iluminação pública e durante o apagão. Já sabemos que 25% dos juvenis marcados com anilhas metálicas, são recapturados durante a Campanha SOS Cagarro, após desorientação pelas luzes da Vila do Corvo. 

O Corvo volta assim, a dar o exemplo na minimização do impacto da poluição luminosa, uma vez que desde 2019 tendo vindo a realizar apagões gerais para salvar aves marinhas. 

Esta ação é realizada no âmbito do projeto Interreg EElabs, com o intuito de avaliar os efeitos da poluição luminosa na população de aves marinhas e nas noites naturais, através da recolha de informação do primeiro e único Laboratório de Poluição Luminosa dos Açores, instalado na ilha do Corvo e em sinergia com o trabalho da investigadora Elizabeth Atchoi (FCT/Okeanos-UAç), a estudar a poluição luminosa e as aves marinhas nos Açores. Para além disso, esta ação é também parte da mais emblemática Campanha de conservação e sensibilização ambiental na Região, a Campanha SOS Cagarro, coordenada pela Direção Regional das Políticas Marítimas e ainda no âmbito do Projeto LIFE IP Azores Natura e LIFE Natura@night. 

O Corvo e a sua população são assim um exemplo único no mundo, ao desligar as luzes em períodos críticos para minimizarem esta ameaça, razão pela qual a mais pequena ilha do arquipélago reclama o estatuto de Santuário para as Aves Marinhas.