Arouca Geopark, um baú de maravilhas da Natureza

Arouca Geopark, um baú de maravilhas da Natureza
Fotografia: Arouca Geopark

A maior parte dos portugueses conhece os Passadiços do Paiva, mas o Arouca Geopark tem mais (muito mais) para dar a conhecer.

Um município, um parque, um sem fim de descobertas. Assim é o Arouca Geopark, constituído como geoparque em 2009. Os seus 328 quilómetros, que encerram mais de 500 milhões de anos com 41 geossítios, estão espalhados desde a Serra da Freita até ao rio Paiva. Por cá, há vestígios das passagens de povos primitivos e dos romanos, e dos saberes ancestrais portugueses nas suas muitas aldeias.

 

Pedras Parideiras e Livrarias de Quartzo

É uma tarefa injusta resumir os geossítios mais interessantes de entre os 41 que este geoparque alberga. Mas vale a pena tentar destacar alguns, como é o exemplo ilustre da Panorâmica do Detrelo da Malhada, que oferece uma vista impressionante desde a serra de Montemuro e o encaixe do vale do Douro, até à região litoral entre Espinho e o Porto e a serra do Marão.

Um dos geossítios mais emblemáticos do Arouca Geopark – pode-se dizer mesmo que é inclusive uma imagem de marca – são as Pedras Parideiras. Este nome (bem mais curioso do que o termo geológico, ou seja, granito nodular da Castanheira) deve-se ao facto de ser uma extensão de granito com nódulos que libertam-se e acumulam no solo, deixando no granito uma cavidade cujas paredes estão revestidas por uma capa biotítica. Foram os habitantes da aldeia da Castanheira que assim baptizaram este granito com cerca de 1 quilómetro2. As Pedras Parideiras apresentam como mine- rais essenciais quartzo, ortoclase, albite, biotite e moscovite, e também zircão, apatite, rutílio, titanite-leucoesfena, clorite, fibrolite e silimanite.

São o único fenómeno do género em Portugal, e são tão raras a nível mundial que a extensão mereceu o seu próprio Centro de Interpretação, aberto desde 2012.

E para quem gostar de livros de pedra… Brincadeira, falamos ape- nas da Livraria do Paiva que encontra-se sobre a ribeira de Mourinha. Não é nada mais nada menos do que um conjunto de estratos quartzíticos verticais cuja disposição faz lembrar estantes de biblioteca. Estes afloramentos quartzíticos são resultantes da deposição de areias, há cerca de 480 milhões de anos. A sua verticalização deve-se à colisão continental que veio dar origem à Pangeia e à cadeia Varisca.

 

Os Passadiços que são Património da Humanidade 

É no Arouca Geopark que se situam os Passadiços de Paiva, porventura o percurso ao ar livre mais famoso do território português. E a sua popularidade é merecida: são 8 quilómetros que passam por pontos de beleza singular, como as praias fluviais do Areinho e de Espiunça. A sua fama procura não é fruto do acaso, já que os Passadiços do Paiva são considerados Património Geológico da Humanidade pela UNESCO. Os Passadiços foram inaugurados em 2015, e desde então têm atraído tanto turistas portugueses como internacionais. A sua reputação é tal que ganharam no passado Julho os títulos de “Melhor Projecto Europeu de Desenvolvimento Turístico” e de “Melhor Atracção Turística Europeia de Aventura” na edição europeia dos World Travel Awards.

Nem o facto de possuírem um nível de dificuldade alto impedem os Passadiços de serem altamente procurados, tanto que em 2016 a venda dos bilhetes teve que ser limitada para prevenir danos na estrutura de madeira. Aliás, no Verão desse mesmo ano, parte da plataforma foi destruída devido a in- cêndios que assolaram Arouca. Mas os Passadiços foram entretanto reabilitados e estão de novo abertos para os turistas que queiram conhecer as margens do rio Paiva a pé.

 

Passo a Passo…

Das quatro rotas contempladas no Arouca Geopark, uma inclui três itinerários dedicados só aos geossítios. O Itinerário A - Freita, A Serra Encantada, está localizado, na sua maioria, no planalto da Serra da Freita. São 11 geossítios para conhecer ao longo de mais de 20 quilómetros. O Itinerário B - Pelas Minas e Meandros Desconhecidos do Paiva é o mais desafiador: são 62 quilómetros na altitude máxima dos 680 metros. É o itinerário mais longo, e nele vislumbram-se as explorações mineiras da 2ª Guerra Mundial. Ao longo da zona sudeste, é possível relembrar as minas de volfrâmio. Já o Itinerário C - Paiva, o Vale Surpreendente, localiza-se na zona oposta do Arouca Geopark, a nordeste. É ideal para quem prefere caminhar a pé, pois 11 dos seus 27 quilómetros só podem ser conhecidos a passada.

Para além dos três itinerários de geossítios, o Arouca Geopark oferece 16 percursos pedestres e uma Grande Rota de 90 quilómetros para os mais aventureiros. Designada como GR28 “Por Montes e Vales de Arouca”, esta rota envolve o vale de Arouca, a serra da Freita, os vales do Paivó e do Paiva, o Museu das Trilobites Gigantes e o santuário da Senhora da Mó. Esta é uma rota de dificuldade média, apta para ser per corrida em qualquer altura do ano.

Nem só de história natural vive o Arouca Geopark. Também há vestígios de Arqueologia dignos de interesse, nomeadamente: o conjunto megalítico de escariz, o dólmen da portela da anta, a mina romana da gralheira d´água, o sítio arqueológico da malafaia, o tumulus pré-histórico de Monte Calvo 2, e a Via romana. Não se pode esquecer o Mosteiro de Arouca, o ponto mais importante para quem desejar gostar de praticar turismo religioso… ou simplesmente quem queira adoçar a boca. O Mosteiro foi fundado no século X e extinto em 1886. Os bens transitaram para a Fazenda Pública devido à morte da última freira, sendo que o espólio artístico foi mantido e guardado no Museu de Arte Sacra, entretanto aí instalado. É ao Mosteiro de Arouca que pertencem algumas das criações de confeitaria mais originais da região, e portanto torna-se imperdível conhecê-lo quando se “dá um salto” pelo Arouca Geopark.

Portanto, propostas não faltam. Com pacotes de experiências pensados desde para os mais aventureiros aos mais românticos, o Arouca Geopark tem tudo para deslumbrar todos que o visitam.

Texto original de Mariana Rodrigues.