JOANA VASCONCELOS a “menina-prodígio” da canoagem

JOANA VASCONCELOS  a “menina-prodígio” da canoagem
Fotografia: Cláudia Matos

Considerada a jovem promessa do desporto nacional de alta competição, Joana Vasconcelos já conquistou o título de campeã europeia de juniores e campeã mundial, em 2009. Em 2012, representou Portugal nos Jogos Olímpicos. É dentro do seu barco branco que desliza com a confiança de quem persegue um sonho inesperado e consegue vingar. No Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho, caracteriza a escolha da carreira desportiva como a melhor que fez na vida e acredita que os obstáculos a tornaram numa pessoa com mais garra.

Descla (D.) – Quando decidiu começar a praticar canoagem?

Joana Vasconcelos (J.V.) – Decidi começar quando tinha 15 anos, quando fui incentivada por uma amiga. Um dia, ela chegou ao pé de mim e perguntou-me se eu já tinha experimentado. Respondi-lhe que não, nem sabia o que era, mas acabei por experimentar. Foi uma experiência única e que me marcou, daí a motivação para continuar a fazer da modalidade a minha vida. Confesso que o início não foi nada fácil. E o mais curioso é que em pequena preferia o futebol.

 

D. – Qual foi a sua primeira competição?

J.V. – A minha primeira competição foi uma prova de longa distância nacional chamada “torneios abertos”. Na altura chamaram-me para ir como cadete. Fiquei na décima oitava posição.

 

D. – Foi a classificação esperada?

J.V. – Foi, o que é normal para quem está a começar a ambientar-se ao esforço que a canoagem exige. Eu ainda não tinha grande resistência física. A partir desse momento fui melhorando o resultado até agora. E o meu treinador sempre me disse para ir com calma, porque ainda era nova. No início todo o resultado que tinha era bem-vindo. Sempre tive um espírito competitivo. O meu objetivo é chegar sempre mais alto.

D. – O que a inspirou e/ou inspira a treinar e a competir a nível internacional?

J.V. – Eu mantenho ídolos desde que entrei para a canoa- gem e acabo por pensar que o meu objetivo é querer ser igual ou até melhor que esses ídolos. No entanto, confes- so que a maior inspiração é a minha mãe que, infelizmen- te, perdi quando tinha 19 anos. Apesar disso, sei que a minha mãe está sempre comigo. Por exemplo, não me sai da cabeça a medalha que ela me pediu para trazer quando fui aos Jogos Olímpicos, na minha estreia.

 

D. – Acaba de contar que segue ídolos. A que ídolos se refere e porquê?

J.V. - Refiro-me a Katalin Kovács, uma das atletas mais medalhadas de sempre, pois somos muito idênticas tanto na estrutura física como no estilo de pagaiadas. Katalin Kovács é uma atleta que demonstra garra e vontade e o fato de ter 35 anos não a impede de nada, encontrando-se ainda no topo. Eu gostava de ser assim ou ainda melhor.

 

D. – A quem dedica as suas vitórias?

J.V. - Dedico sempre à minha mãe, que sei que está sempre comigo em todos os momentos.

 

O sonho realizado

 

  1. – Qual foi o momento mais alto da sua carreira até ao momento?

J.V. – Foi em 2009, quando fui campeã da Europa de Juniores e campeã do Mundo. Também cumpri um sonho em 2012 quando fiz as duas presenças nos Jogos Olímpicos.

 

D. – O que retém da experiência dos Jogos Olímpicos?

J.V. - Estar nos Olímpicos foi uma experiência incrível. Ver tantos atletas de topo ao meu lado dava-me mais vontade de competir.

 

D. – Cada medalha que recebeu tem um significado especial?

J.V. - Sim, qualquer prémio que receba tem valor. Falo no geral, enquanto atletas andamos todo o ano a esforçar-nos para alcançar os melhores resultados. Quando subimos ao pódio para receber as medalhas sentimos que o nosso dever foi cumprido.

 

D. – Qual será o próximo passo?

J.V. – O próximo passo é tentar ser apurada em 2015. Caso consiga ser apurada vou tentar ir às finais, onde tudo pode ser possível. Tenho trabalhado muito para isso porque quero ir novamente aos Jogos Olímpicos.

 

O olhar sobre o desporto

 

  1. – Iniciou a sua carreira no Clube Náutico de Crestuma, como foi ser transferida para um clube com a dimensão do Sport Lisboa e Benfica?

J.V. – Foi ótimo! Confesso que foi uma decisão da equipa e um convite que não estava nada à espera e que me surpreendeu. Representar um clube como o Benfica é espetacular. É uma equipa que nos dá imenso apoio.

 

D. – É uma atleta federada. Sente que há apoio por parte da Federação Portuguesa de Canoagem?

J.V. – Sim, sem dúvida que sinto apoio da Federação. Financeiramente não, porque nunca foi um desporto muito apoiado devido à falta de possibilidades. Mas o que não há em dinheiro acaba compensado em material. Só que, como é óbvio, se tivéssemos mais apoio seria muito melhor.

 

D. – Considera que a canoagem é um desporto desvalorizado em Portugal?

J.V. – Sim, apesar de a canoagem estar a ser cada vez mais falada nos meios de comunicação. Mas só lá passa pelo reconhecimento que nos dão ao subirmos o pódio mais vezes que as outras modalidades e não pelo desporto em si. É só para informar que conseguimos medalhas ou que as perdemos, e não para dizer que vai haver prova hoje ou amanhã, como fazem com o futebol. Mesmo assim, acredito que, sempre que nos vêem, as pessoas olham para os atletas e para a modalidade de uma outra forma, valorizando mais. 

 

D. – Apesar da desvalorização, a canoagem é, atualmente, um desporto em grande crescimen- to. Que futuro prevê para esta modalidade?

J.V. – Se continuar a evoluir como tem estado ao longo destes anos, tanto o nível dos atletas como da competição, prevejo um futuro muito risonho e com mais conquistas. Os atletas, desde os de alta competição aos mais novos, têm trabalhado bastante para isso. O mais importante para nós é saber que trabalhamos em união.

 

D. – Acabou de falar na união entre atletas, considerado um ponto essencial em qualquer desporto. Sente que essa união é importante para levar a modalidade mais longe?

J.V. – Penso que é preciso ser forte numa equipa. Temos que nos apoiar uns aos outros, nos bons e nos maus momentos. Até mesmo nas tripulações temos que ser bastante unidos.

 

D. – O facto de estar sempre em competição dá-lhe a possibilidade de conhecer o mundo. Acha que a canoagem é vista de forma diferente lá fora?

J.V. – Dependendo dos países. Lembro-me que o país que mais me marcou foi a Hungria. Nesse país o desporto rei é a canoagem. Nas provas está sempre imensa gente a assistir, como cá no futebol. Há carros vassoura em frente aos autocarros, há paragens e cartazes de atletas. É fantástico, porque valorizam a modalidade.

 

O dia-a-dia de uma atleta

 

  1. – Treina todos os dias?

J.V. – Começo por treinar de manhã, depois almoço, volto a treinar de tarde e ao final do dia vou para a faculdade. Todos os dias são assim, mas acabam por ser todos recompensados. A minha força de vontade é maior que o cansaço.

 

D. – Alguma vez pensou em desistir e/ou seguir outro caminho?

J.V. – Não, nunca. Quando se gosta muito do que se faz penso que esse tipo de pensamentos não passa pela cabeça de uma pessoa. É preciso haver coragem e garra. Eu acabo por fazer, sempre, das minhas dificuldades as minhas maiores motivações.

 

D. – O que a caracteriza enquanto atleta?

J.V. – Acho que é a humildade, a garra, a determinação, a vontade de querer chegar sempre mais lon- ge. Penso que acreditar é o primeiro passo para fazer acontecer, depois é ter atitude.

 

D. – Qual é a sua imagem de marca?

J.V. – A minha imagem de marca é o meu barco branco e a fita branca. Eu escolhi o branco porque transmite tranquilidade na prova. E é uma cor que se vê bem ao longe, tornando fácil distinguir-me das outras adversárias.

 

D. – Por fim, que conselho daria a futuros jovens canoístas?

J.V. – O meu conselho é: tudo se consegue, basta querer. A canoagem não é um desporto fácil. É muito difícil de começar, mas com trabalho, amor e dedicação tudo se consegue. Antes de alguém acreditar em nós, temos nós de acreditar que com força conseguimos atingir os nossos objetivos.

Texto original por Joana Capinha.