FANUN RUIN, de Zia Soares
Tudo começa quando a atriz e encenadora Zia Soares se depara com uma coleção de 35 crânios humanos, dispostos num armário do Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra… é este o início para este caminho, que é também uma reflexão (que passa por Timor, Angola e Portugal) sobre o passado colonial e o seu efeito no presente.
O resultado deste caminho é a performance FANUN RUIN (Chamar Ossos, tradução do tétum para português), concebida no âmbito da programação paralela da exposição Europa Oxalá, onde Zia Soares promove essa reflexão e abre espaço para um debate em torno da memória, da identidade e do luto.
“Timor. Em 1959, um grupo de timorenses revolta-se contra o regime colonial. São presos e desterrados – durante vários dias viajam no vapor “Índia” para um destino que desconhecem. Um desses homens é o meu pai.
Angola. Homens com rostos desfocados. A fotografia mais antiga que tenho é a do meu pai com os companheiros na cadeia do Bié. Foi no Bié que o meu pai conheceu a minha mãe.
Portugal. Trinta e cinco crânios usurpados. Em 1882, na parte oriental da ilha de Timor, têm lugar os ritos de caça de cabeças, exortados pelos invasores portugueses. Trinta e cinco crânios desses corpos decapitados foram desterrados para Portugal.”
É no confronto com a morte sem rosto que irrompe a utopia de dar carne aos ossos, de desfigurar a arquitetura do arquivo, de trazer à boca a palavra que edifique a casa onde por fim se possa repousar.
Começa-se nas perguntas. Como eram os rostos dos decepados? Onde estão os restos dos corpos?
Quando retornam os ossos usurpados? Quem os espera?
Quem ainda se lembra? Quem quer esquecer?
Como encarnar os ossos?
A atriz fala. Põe na voz a vida.
0: Ritos de Lorosae.
1882: Desterramento.
35: Crânios.
1959: Revoltosos.
1959: Desterramento.
1974: Autodesterramento.
2021: Ossos usurpados.
2022: FANUN RUIN.
9 e 10 setembro as 19h30 na Fundação Gulbenkian
Mais informação em gulbenkian.pt
FICHA TÉCNICA
Autoria, Direção, Interpretação Zia Soares
Direção de arte Neusa Trovoada
Cocriação de vídeos António Castelo
Música Xullaji
Cocriação de movimento Lucília Raimundo
Iluminação Mafalda Oliveira
Elenco de vídeo Agostinho de Araújo, Aoaní Salvaterra, Domingos Soares, Fátima Guterres, Lídia Araújo, Lucília Raimundo, Manuel de Araújo, Priscila Soares
Assistência à cenografia Carlos Trovoada, Nig d´Alva
Técnico de som Luís Moreira
Fotografia António Castelo
Assistência geral Aoaní d´Alva
Produção Fundação Calouste Gulbenkian, SO WING
Apoios Centro Cultural da Malaposta, Polo Cultural Gaivotas Boavista