100 anos após o seu nascimento, recordemos Saramago - As maiores estalactites do mundo

100 anos após o seu nascimento, recordemos Saramago - As maiores estalactites do mundo
Algar do Carvão, fotografia por Jorge Góis, município de Angra do Heroísmo

Chegamos à Ilha Terceira desejosos de nos passearmos pelo centro histórico de Angra do Heroísmo, o primeiro em Portugal a ser classificado pela Unesco como Património da Humanidade (1983). A imponente Sé Catedral, considerado o maior templo dos Açores, demorou 48 anos a construir, tendo sido edificada a partir de 1750 sobre as ruínas da igreja gótica de São Salvador, do século XV. Por essa altura já a cidade era um porto de escala obrigatória, especialmente para as frotas do Brasil, África e Índias, posição que manteve até ao aparecimento dos barcos a vapor, no século XIX.

A importância estratégica de Angra do Heroísmo levou a que os espanhóis rodeassem o Monte Brasil, um antigo vulcão com origem no mar, com uma das maiores fortificações atlânticas da época, a de São João Baptista. Era ela que, juntamente com a Fortaleza de São Sebastião, defendia o porto e a cidade dos ataques de piratas e corsários que tentavam apoderar­-se das riquezas trazidas pelas naus da Índia. Já no século XIX, foi aqui que D. Pedro IV organizou a expedição que acabaria por levar ao desembarque do Mindelo, em 1832, momento decisivo para a vitória liberal sobre o rei D. Miguel.

É nesta cidade que por altura do verão se realizam as tradicionais festas sanjoaninas, as maiores festas profanas dos Açores. Milhares de pessoas ocupam as ruas e desafiam as investidas do touro, preso à corda e guiado por dois grupos de quatro “pastores”. As corridas de praça, a música e as marchas de São João, que juntam mais de 3 mil participantes, são outros pontos altos desta festa que dura nove dias. A Ilha Lilás prende o olhar pelo magnetismo dos campos verdes, verdadeiras mantas de retalhos onde as vacas pastam todo o dia. Abaixo da superfície, merece visita o Algar do Carvão, resquício de uma antiga conduta vulcânica: do teto pendem estalactites de sílica que nos dizem ser as maiores do mundo.

A viagem pelos mistérios do vulcanismo prossegue na Caldeira da Graciosa, com cerca de 270 metros de profundidade, no interior da qual fica a Furna de Enxofre, que comunica com o exterior por duas grandes fendas e à qual acedemos por uma escada em caracol de 183 degraus. É a catedral das cavidades vulcânicas dos Açores e possui um lago de água e uma fumarola com lama, responsável pelo cheiro a enxofre. Mais pequena, a Caldeirinha de Pêro Velho, único algar vulcânico da Graciosa, permite recriar a viagem de Júlio Verne ao centro da Terra. Ainda na Ilha Branca – assim chamada devido à menor pluviosidade e ao predomínio do traquito –, podemos visitar a Igreja da Misericórdia, onde pregou o padre António Vieira, con­templar os belos moinhos e entrar no Museu da Graciosa, que reproduz uma casa típica destas paragens, mas ao pôr­do­sol é obrigatório subir ao Farol da Ponta da Barca, que possui a torre mais alta entre todos os faróis dos Açores, e deslumbrar­-se com a vista sobre o Oceano Atlântico e o pequeno Ilhéu da Baleia, esculpido pela força do mar.