Festival Terras Sem Sombra, em Montemor-o-Novo

Festival Terras Sem Sombra, em Montemor-o-Novo
Fotografia: D.R.

O tempo, elemento modelador das paisagens e da relação do Homem com o Mundo, servirá de compasso a mais um fim-de-semana do Festival Terras sem Sombra, em parceria com o Município de Montemor-o-Novo, num momento culminante da sua 18.ª temporada. O tempo de escala geológica que forjou os contornos da Serra de Monfurado; aquele outro que determina a multimilenar presença humana nos vestígios encontrados na Gruta do Escoural; e o percurso de nove séculos de história da polifonia europeia, dão o mote às actividades, de acesso gratuito (mediante inscrição prévia*), a decorrer no concelho de Montemor-o-Novo, a 17 e 18 de Setembro. Dois dias de Música, Património Cultural e Biodiversidade que contam com um momento maior na igreja do convento de São Domingos (17 de Setembro, 21h30), monumento de referência da arquitectura alentejana, revestido a azulejos do século XVII, raros no continente europeu e constituído por oito capelas laterais.

Esta igreja, recuperada pelo Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, proprietário do convento, oferece um palco de excepção para o concerto "Europa Plural: Nove Séculos de Polifonia no Velho Continente", pelo grupo vocal Voces Caelestes e o ensemble de música barroca Os Músicos do Tejo, dirigidos pelos respectivos maestros titulares, Sérgio Fontão e Marcos de Magalhães, a par da colaboração do violoncelista Pedro Massarrão e da cravista Marta Araújo. O programa, desenhado para o Festival Terras sem Sombra, inclui peças de Pérotin, Vicente Lusitano, Bach, Schubert e Webern, deixando antever uma memorável noite de grande música. O concerto tem acesso livre.

Com direcção musical de Sérgio Fontão, Voces Caelestes é um grupo vocal de constituição variável que ocupa um lugar destacado no universo da música portuguesa, aliando à vasta experiência dos seus cantores a versatilidade na interpretação de um extenso repertório. A par do empenhamento na divulgação e captação de novos públicos para a música antiga, consagra especial atenção à criação contemporânea.

Fundado em 2005 e dirigido por Marcos Magalhães e Marta Araújo, o agrupamento Os Músicos do Tejo tem desenvolvido um percurso assinalável no panorama europeu da música antiga. O seu trabalho é orientado por dois eixos complementares: dar a conhecer obras inéditas ou pouco acessíveis do património musical português; e desenvolver projectos inovadores e transdisciplinares, com artistas actuais, reflectindo criativamente sobre a música e o papel que lhe cabe na sociedade de hoje.

 

Tempos da História e da Geologia: Santiago do Escoural e a Serra de Monfurado

A anteceder o concerto, a tarde de sábado (17h00), acolhe uma visita a um tesouro do património cultural nacional, em Santiago do Escoural. “Do Paleolítico ao Calcolítico: A Gruta e Povoado Fortificado do Escoural”, promete levar os participantes a um tempo ancestral. No território, a paisagem era então outra, de mais densa floresta, um recurso indispensável a quem ali se abrigava. A Gruta do Escoural, constituída por múltiplas galerias onde se observam pinturas e gravuras rupestres, foi descoberta em 1963, o que permitiu, pela primeira vez em Portugal, a identificação de vestígios de arte rupestre paleolítica. Neste local e nas suas proximidades, foram identificados indícios de antigas populações que ali habitaram, desde há cerca de 50.000 anos. É o mote para uma visita revestida de particular interesse patrimonial que tem como ponto de encontro a Gruta do Escoural e se estende aos seus arredores, sob a orientação dos arqueólogos António Carlos Silva, Carlos Carpetudo e Rui Mataloto.

De um tempo de escala humana para um tempo de dimensão geológica, a manhã de domingo, 18 de Setembro (09h30), intitula-se “Paraíso Próximo: A Serra de Monfurado”.  Após o encontro no Cineteatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo, a visita prossegue rumo à Serra de Monfurado, perfil montanhoso com mais de 20 km de extensão, que separa as bacias hidrográficas do Tejo e Sado, ostentando 441 metros de altitude máxima no pico de São Sebastião. Para além do relevante interesse da sua fauna e flora, objecto de classificação pela União Europeia, o território foi palco, no final do século XIX e no início do século XX, de exploração mineira, que deixou, como vestígios, “cortas” a céu aberto. São ainda visíveis, na zona, as ruínas do mosteiro de de Nossa Senhora do Castelo das Covas de Monfurado. Os participantes na actividade são convidados a percorrer alguns dos caminhos serranos, acompanhados por dois peritos, Ana Fonseca, doutorada em Gestão Interdisciplinar da Paisagem, e José Mira Potes, professor da Escola Superior Agrária de Santarém.

Nesta 18.ª edição, o Festival Terras sem Sombra concluirá a sua programação em Sines, a 22 e 23 de Outubro.