Exposição "Rebordinho: Uma aldeia retractada"

Exposição "Rebordinho: Uma aldeia retractada"
Fotografia: D.R.

Uma co-produção entre a Binaural Nodar e o Conselho Directivo da Comunidade Local dos Baldios de Rebordinho e Malhadouro, com apoio do Município de Vouzela.

A exposição "Rebordinho: Uma aldeia retractada", que inaugurou no dia 26 de Julho pelas 19h00, resultou de um desafio proposto durante uma conversa entre representantes da Binaural Nodar e do Conselho Directivo da Comunidade Local dos Baldios de Rebordinho e Malhadouro, para que o edifício da antiga escola primária da aldeia, na altura sem qualquer utilização de relevo, pudesse acolher iniciativas culturais regulares. Tendo a Binaural Nodar realizado no passado recente vários projectos que envolveram a recolha de fotografias antigas junto de comunidades de várias aldeias da região de Viseu, tomou-se a decisão de que a primeira iniciativa seria uma exposição precisamente resultante de recolhas de fotografias antigas na aldeia de Rebordinho.

O que nos pode dizer uma exposição fotográfica com quase duzentas imagens cedidas por habitantes de uma aldeia, como Rebordinho, e que cobrem praticamente um século de duração? Desde logo, e num rápido "voo de pássaro", percebemos algumas mudanças óbvias: a evolução tecnológica da captação de imagens, do preto e branco até à cor, as poses que deixaram de ser tão formais para serem mais descontraídas ou a indumentária usada, que antes era tecida, cortada e cosida localmente e que mais tarde passou a ser comprada nas feiras ou nas lojas da vila, muita dela já importada de outros países.

Não obstante, estas primeiras observações acabam por ser redutoras, pois, quiçá, o mais importante na exposição fotográfica "Rebordinho: Uma aldeia retractada" é outra coisa e consiste na consciência da rápida transformação de um mundo rural que vivia, até há meio século, em absoluto estado de subsistência, com uma economia baseada na produção agrícola familiar e na venda ocasional de animais, de produtos e de serviços: ferreiro, pedreiro, carpinteiro, tamanqueiro, cesteiro, oleiro, tecedeira, doceira, sardinheira, etc., com muita gente calcorreando a paisagem a pé, até outras aldeias ou até alguma feira mais próxima, para vender animais e outros produtos ou para "ajustar" os próximos trabalhos artesanais.

O imenso trabalho que implicou digitalizar e catalogar estas quase duzentas fotografias, indo a casa das famílias (mais de cinquenta pessoas cederam fotografias) perguntando pelo nome das pessoas retractadas ou pelos contextos em que foram tiradas, contrastando dúvidas com vários habitantes, produziu um verdadeiro painel cultural e de memória, o qual sugere muitas perguntas. Quem foram aquelas longínquas pessoas retractadas nas fotos mais antigas? Por onde andaram? Para que países emigraram? Brasil? França? Suíça? Ou ficaram sempre na aldeia? Quais eram as famílias mais influentes na aldeia de Rebordinho? Quem eram os seus caseiros? Que profissões tinham as pessoas? Quais eram os personagens da aldeia de que muita gente ainda se lembra? Quem casou com quem? Quem é filho, sobrinho ou neto de quem? Que percurso de vida tiveram os meninos fotografados no exterior da escola primária?

Esta exposição, que resulta de um trabalho de Liliana Silva, em colaboração com os habitantes actuais da aldeia de Rebordinho, constitui uma reflexão profunda sobre a passagem do tempo. Muitas das pessoas retractadas faleceram e, este facto inexorável da própria vida, faz-nos pensar que talvez as fotos que foram feitas àquelas pessoas, num determinado dia e lugar de há muitos anos, constituem a única evidência física que delas ficou.

A exposição "Rebordinho: Uma aldeia retractada" permite, enfim, uma infinidade de leituras e de ensinamentos para as gerações mais recentes, já que as famílias de hoje são resultado de tantos encontros e eventos mais ou menos fortuitos dos seus antecessores e, como tal, muitos dos que estiverem perante este magnífico painel de tempo, poderão entender que estas fotos contam histórias reais, pequenos retalhos de momentos da vida quotidiana passada nesta linda aldeia que é Rebordinho.