Beatriz Batarda apresenta-se no Teatro Viriato em nova peça e em vídeo-instalação

Beatriz Batarda apresenta-se no Teatro Viriato em nova peça e em vídeo-instalação
Fotografia: Estelle Valente/Teatro São Luiz

Beatriz Batarda regressa ao Teatro Viriato para apresentar a sua mais recente peça, “C., Celeste e a Primeira Virtude”. Com apresentação nos dias 27 e 28 de Abril, este é um espectáculo que aborda os trilhos que o ensino artístico abre para o rasgo da invenção, esse lugar feliz em que a alma humana liga verticalmente a Terra ao abismo celestial. Uma criação que pretende contribuir para um debate honesto sobre a liberdade, o papel da Arte, o amor e o poder que se instala nos vários ismos – machismo, racismo, fascismo – e outras manifestações do medo. O espectáculo articula-se com a vídeo-instalação “Corpos Celestes”, realizada por Beatriz Batarda e correalizada e montada por Rita Quelhas.

Um grupo de alunos do ensino artístico desenvolve o projecto final sob a direcção da “Mestra”. Trabalham a partir de um relatório médico-legal e reconstituem os detalhes de um crime. Sentindo que o percurso académico está a chegar ao fim, os alunos, movidos pela ansiedade e pelo medo, entram em conflito. Cegos pelo desespero, o grupo liberta-se acabando tragicamente com a vida de duas pessoas.  “O tema da educação nas artes, onde a peça se enquadra, é-me familiar, faz parte da minha vida quotidiana há já alguns anos, e serve o propósito de devolver aos mais novos a força da voz da vulnerabilidade, tantas vezes vampirizada pelos serviços gerados pela revolução tecnológica, assim como pela economia pós-industrial. Por considerar que, apesar de tentar acompanhar as mudanças, faço parte do mundo antigo, fantasiei dentro dos moldes de escrita clássica as possíveis ascensão e queda de um herói contemporâneo movido pela sede de fazer justiça, e desejo de recuperar a verdade sobre os acontecimentos traumáticos do passado colonialista que continuam a fazer-se sentir nos hábitos normalizados pela prática capitalista”, explica Beatriz Batarda, que neste espectáculo acumula três funções: autora, encenadora e actriz.

"C., Celeste e a Primeira Virtude" conta ainda com o apoio à dramaturgia de Nuno M. Cardoso e com interpretação de André Simões, Binete Undonque, Guilherme Félix, Íris Runa, Joana Pialgata, Pedro Russo e Rita Cabaço.

Os bilhetes para esta peça podem ser adquiridos na Bilheteira Física e no site do Teatro Viriato e na BOL.

A propósito da investigação e processo de escrita da peça para teatro “C., Celeste e a Primeira Virtude”, de Beatriz Batarda, nasce o projecto “Corpos Celestes”, uma vídeo-instalação em 5 actos, 5 ecrãs, 5 histórias narradas a partir de testemunhos de jovens artistas das áreas de Teatro, Artes Visuais e Dança, recolhidos no intervalo em que veem o rumo das suas vidas suspenso: depois da vida de estudante e antes de atingirem a visibilidade pública. São anos de pandemia. Cruzam-se ficção e realidade e, com um olhar contemporâneo, aproximamo-nos do importante debate sobre o conflito individual entre pressões exteriores e motivações íntimas. A instalação poderá ser visitada no dia 27, das 16h30 às 18h30, e no dia 28, das 14h30 às 18h30 e das 22h30 às 23h30. A entrada é gratuita.

A partir da ideia de Wilhelm Schmidt em Serenidade (2014), de que a Arte possui muitas vezes um carácter melancólico e pode oferecer consolo ou inspirar um sentimento de felicidade – esse carácter a que Hannah Arendt chama “a virtude mais elevada do ser humano” –, Beatriz Batarda, que aqui se estreia na realização de um objecto audiovisual, constrói uma narrativa onde elementos da ficção e da não-ficção se completam numa história sobre sentimentos de pertença que nos diz respeito a todos. A instalação corresponde a 5 laboratórios de criação onde se reuniram 5 grupos de trabalho, cada um deles constituído por jovens entre os 20 e os 30 anos, de diferentes origens geográficas e percursos singulares. A autora procura registar como um teatro íntimo e perigoso pode abrir o debate intelectual em contacto com os afectos, de forma a aprofundar temas trabalhosos tais como o poder esmagador da imagem, o lugar da liberdade na Arte, as manifestações de segregação no mercado de trabalho, o regresso ao significado do gesto artístico e a importância da verdade no impulso criativo.