Alunos universitários criaram dezenas de novos artefactos inspirados no linho, burel e madeira
Uma capucha cor de laranja para fazer lembrar a laranja de besteiros, outra criada a partir de desperdícios do burel, um capote, sapatos de burel, bijuteria, sacos, sapatos e papel à base de linho, pins, carimbos, candeeiros de madeira com linho e um marco digital da rota do linho foram algumas das dezenas de peças criadas pelos alunos da Universidade de Aveiro (UA) que, na última semana, estiveram em aldeias do concelho de Tondela a participar num laboratório de design organizado com o objectivo de desenvolver uma nova geração de artefactos artesanais que cruzassem a tradição com o olhar contemporâneo.
O resultado do laboratório, designado de UA. LABDESIGN, foi apresentado na manhã deste domingo (23 de Julho), numa sessão que decorreu na sede da Associação das Mulheres Agricultoras de Castelões (AMA Castelões) e que juntou dezenas de pessoas, entre alunos, professores e investigadores da UA, membros da comunidade, a presidente e o vice-presidente da Câmara de Tondela.
“Esta foi uma semana fantástica para todos nós”, começou por afirmar Carla Antunes Borges, não escondendo a satisfação por a academia se ter mudado para o território e pelo trabalho desenvolvido pelos estudantes universitários que se traduziu na criação de novas peças de design a partir de produtos endógenos como o burel ou o linho.
“Foi possível com a UA darmos aqui um salto qualitativo que nós já há muito reclamávamos e que é um salto que reconhece e dignifica o trabalho dos nossos artesãos. Com isto damos um upgrade de modernidade e sustentabilidade para o futuro das nossas tradições”, disse.
“Para nós efectivamente este é um momento histórico e ficámos muito agradados porque este projecto que começou no linho teve depois a capacidade de ir buscar o burel, um conjunto de saberes e reuni-los nas suas mais variadas vertentes, incorporando conhecimento e metodologias”, acrescentou.
A presidente da Câmara de Tondela fez ainda saber que autarquia quer que o laboratório UA. LABDESIGN tenha continuidade nos próximos anos abrangendo outros produtos locais como o barro negro, a cestaria ou a tanoaria.
“Da nossa parte queremos que este seja um projecto de continuidade. Não queremos que se remeta a uma exposição que vá passando de sítio em sítio, queremos que seja um projecto que vá para fora de portas, que ganhe sustentabilidade económica e social e que seja um projecto de futuro”, argumentou.
Nos últimos sete dias decorreram quatro oficinas criativas em três localidades diferentes do concelho tondelense. A aldeia de Múceres, em Castelões, recebeu dois ateliês, um dedicado ao linho e outro ao digital. A Ribeira, em Campo de Besteiros, foi palco de uma oficina relacionada com a madeira e o Caramulo recebeu uma outra focada no burel.
Os professores que orientaram os diferentes workshops mostraram-se muito satisfeitos com o resultado do laboratório.
“Hoje é um dia muito especial. Esta foi uma experiência de sonho que se concretizou, do qual espero não acordar. Foi uma semana de grande intensidade e muita produção”, declarou Nuno Dias, coordenador do UA. LABDESIGN.
O trabalho desenvolvido na última semana no concelho vai resultar agora num livro, num documentário e num site, que documentam tudo o que se passou no território e todo o trabalho desenvolvido pelas duas dezenas de alunos da Universidade de Aveiro, cinco professores e dois investigadores.
O laboratório UA. LABDESIGN foi organizado pela Câmara Municipal de Tondela, AMA Castelões, Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura (ID+) e Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, com o apoio das juntas de freguesias de Castelões, Campo de Besteiros e Guardão e a colaboração do Centro de Estudos e Interpretação da Serra do Caramulo (CEI Caramulo).