Abertura exposição de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet na Casa do Cinema Manoel de Oliveira

Abertura exposição de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet na Casa do Cinema Manoel de Oliveira
Fotografia: D.R.

A partir do dia 21 de Setembro, visite a exposição Jean-Marie Straub e Danièle Huillet: Na cratera do vulcão, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira.

A Casa do Cinema Manoel de Oliveira apresenta a primeira exposição dedicada a Jean-Marie Straub (1933-2022) e Danièle Huillet (1936-2006) em Portugal. A sua obra, desenvolvida ao longo de mais de seis décadas e compreendendo cerca de meia centena de filmes, realizados em diferentes países (Alemanha, França, Itália e Suíça), é um marco incontornável do cinema moderno e um exemplo expressivo de um cinema verdadeiramente interlinguístico, transnacional e pan-europeu.

O rigor da construção dos planos, a desnaturalização da representação, o foco na materialidade da palavra, a interpelação do passado e o modo como Straub e Huillet se apropriam de obras de outros autores, seja no campo da literatura, da música ou da pintura, são algumas das características que partilham com Manoel de Oliveira. Estas são igualmente as coordenadas fundamentais de um cinema eminentemente político.
Depois da reflexão sobre o pós-guerra, que marca a fase inicial do seu percurso e se estende ao que pode designar-se como uma arqueologia da luta de classes, o cinema de Straub e Huillet antecipa uma das questões fundamentais do nosso tempo: a relação do Homem com a Natureza.

A importância que os cineastas concedem ao lugar converte-se, nesta exposição, em porta de acesso ao que, na senda da adaptação de A Morte de Empédocles (1986), drama trágico de Friedrich Hölderlin, Straub define como “comunismo utópico”, ou seja, uma síntese entre marxismo e ecologia.

 

Straub não se cansava de repetir que “fazer a revolução é também repor no lugar coisas muito antigas, mas esquecidas”. A obra que realizaram demonstra que a análise materialista dos processos políticos, históricos e sociais implica que se assuma o compromisso de interrogar criticamente os ideais da civilização, com os seus imperativos de razão e de progresso, que volte a pensar-se a oposição entre natureza, técnica e cultura, sem que deixemos de nos perguntar porque é que este mundo, cada vez mais tomado pela produtividade, foi definitivamente desertado pelos deuses.