"Sal na Ferida": exposição na Galeria Praça do Mar, Quarteira, até 15 de Maio

"Sal na Ferida": exposição na Galeria Praça do Mar, Quarteira, até 15 de Maio
Foto: DR

Exposição "Sal na Ferida" com obras de Amanda Triano e cláudia simões na Galeria Praça do Mar, Quarteira, até 15 de Maio

 

Resultado de uma residência artística, exposição apresenta trabalhos inéditos em escultura, instalação e fotografia

A Alfaia e as Galerias Municipais de Loulé apresentam “Sal na Ferida”, uma exposição de Amanda Triano (Madrid, 1995) e cláudia simões que nasce de uma residência artística, realizada em 2024 pelas artistas no território de Loulé e que resulta em obras inéditas que exploram a interseção entre paisagem, memória e elementos simbólicos da região.

 

Por meio da escultura, instalação e fotografia, as artistas constroem um diálogo sobre tempo, corpo e transformação. O sal, material que simultaneamente conserva e corrói, emerge como a grande metáfora da exposição, evocando processos de cura e a passagem inexorável do tempo.

 

Amanda Triano investiga a relação entre o natural e o artificial, criando um espaço expositivo onde a natureza é arquivada, fossilizada e mediada pela tecnologia, cujas obras questionam a obsolescência e a impermanência dos materiais, propondo assim uma reflexão sobre os impactos do desenvolvimento tecnológico no mundo natural. Cláudia Simões, por sua vez, parte da semente como símbolo de memória e renovação. Através da fotografia e da materialidade dos seus processos, investiga o ciclo de nascimento, ruptura e renascimento, estabelecendo um paralelismo entre a efemeridade do corpo e da paisagem e a tentativa humana de fixar a memória.

 

“Sal na Ferida” convida assim o público a habitar um espaço de tensões e instabilidades, onde as camadas do tempo e da matéria se entrelaçam, revelando fragilidades e possibilidades de reconstrução.

 

Esta exposição está patente na Galeria Praça do Mar, em Quarteira, até ao dia 15 de Maio de 2025.

 

SOBRE AS ARTISTAS

cláudia simões (n. 1998), é uma artista multidisciplinar, oriunda de Sintra, que vive e trabalha actualmente na cidade do Porto. Licenciada em Arte Multimédia, na vertente de Fotografia, mestre em Crítica, Curadoria e Teorias de Arte e pós-graduada em Discursos de Fotografia Contemporânea pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

 

A artista descreve o seu trabalho como fruto de uma constante relação com o mundo natural e, por conseguinte, espiritual. Assume as suas capacidades de superação e crescimento como intimamente conectadas às suas emoções, que estão, por sua vez, enraizadas à sua criatividade. Articulando conceitos como luto, memória, ausência, organicidade e imaterialidade, reconhece-se como uma «agricultora de nitrato de prata», onde o semear, a espera e a contemplação são elementos imprescindíveis à sua expressão autoral (principalmente) na fotografia, muitas vezes alternativa e experimental, e que envolve a "colheita" e recolecção de artefactos da Natureza.

 

Durante o seu percurso tem vindo a desenvolver um profundo interesse pela inconvencionalidade da «imagem» e «fotografia», teorizando-as e investigando as diversas possibilidades que esses conceitos lhe permitem, nomeadamente na sua experimentação. Considera que o que há de mais interessante na prática fotográfica é a sua não-durabilidade, por tudo na Natureza ser fotossensível. No seu processo reflecte acerca da efemeridade através do único meio reconhecido como o que estagnará o memento mori. É nas diversas caminhadas que a sua prática lhe exige, no sair porta fora e no experienciar o movimento de todas as coisas, que cláudia simões considera que a parte integral do que se é reside, no «espaço-entre» - nas folhas, terra e pedras que traz consigo como memória de que o fluxo é eterno, mas também os rios um dia pararão de correr. A caminhada é, portanto, o factor fulcral no seu processo, enquanto experiência única contida num espaço-tempo fugaz, e que se relaciona com a sua não eternidade enquanto ser-consciente.

 

Amanda Triano (Madrid, 1995) trabalha sempre a partir da veracidade do objecto artístico como representante do mundo ao nosso redor. Sua prática examina as maneiras complexas e frequentemente contraditórias com que os seres humanos se relacionam com o mundo natural, borrando as fronteiras entre o orgânico e o artificial, o natural e o industrial. Seus últimos projectos são concebidos como um cenários que investigam as transformações da Natureza ao longo de escalas geológicas profundas, permitindo explorar a alteridade do mundo contemporâneo e reflectir sobre a relação entre o desenvolvimento tecnológico e os princípios do mundo natural. As suas exposições geram novas possibilidades de co-dependência entre os acontecimentos e os objectos expostos, abordando uma certa impressão manifesta de "queda do tempo" — a decadência, a ruína e a obsolescência do tempo histórico. Aqui, a Natureza não é mais um organismo dinâmico, mas um registro de algo que já foi — uma Natureza arquivada, musealizada, fossilizada, mediada pela tecnologia, pela cultura, pela história e pelos processos humanos de representação.

 

Amanda estudou Belas Artes e Design Gráfico na TAI University School of Arts, em Madrid, onde se graduou em 2020 com distinção, recebendo uma bolsa de mérito pela videoinstalação LETE e um prémio na categoria de Artes Digitais pelo vídeo A través, apresentado no Festival Entre Paredes (2020). Actualmente, reside em Lisboa, onde conclui um Mestrado em Arte Multimédia na Faculdade de Belas Artes, com especialização em Transmedia Art e Performance. Amanda participou de diversas exposições colectivas em espaços como o Fluxus Museum, na Grécia (2024); Galeria Sem Forma, no Porto (2023); e Brotería, em Lisboa (2023). Actualmente, trabalha em sua segunda exposição individual, programada para Agosto de 2025 no Museu de História Natural e da Ciência de Lisboa, um projecto que expande sua investigação crítica sobre a objetificação e o controle da Natureza no contexto da arte contemporânea.


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