O Templo da Padroeira de Portugal

O Templo da Padroeira de Portugal
Fotografia: Tiago Canoso

Erguido sobre uma colina, o Castelo de Vila Viçosa, no distrito de Évora, apresenta uma localização dominante sobre a vila e é caracterizado pela sua magnífica construção, onde o passar do tempo foi deixando diversas marcas.

A história do Castelo de Vila Viçosa confunde-se um pouco com a história do próprio concelho, criado por D. Afonso III em 1270, aquando a emissão da Carta de Foral. Composta por três núcleos articulados, de épocas cronológicas diferentes e tipologias variadas, e com uma localização geoestratégica, a fortificação é caracterizada, desde a sua construção na Idade Média, pela sua função militar, que foi sendo desenvolvida e melhorada ao longo dos séculos.

Fortificação característica pelo seu estilo de arquitetura militar nos estilos góticos, foi no Castelo de Vila Viçosa que ocorreram alguns dos acontecimentos mais relevantes da história militar de Portugal. Segundo Tiago Salgueiro, responsável do Palácio Ducal de Vila Viçosa, foi “entre 1381 e 1385, que o concelho e o castelo se tornaram no quartel-general das operações durante a guerra com Castela, sendo ainda alvo do cerco pelo exército espanhol dirigido pelo Marquês de Caracena aquando das Guerras da Restauração. Destaque ainda para a vitoriosa Batalha de Montes Claros de 1665, assim como o papel fulcral na derrota do exército invasor espanhol aquando da Guerra da Sucessão de Espanha, em 1710. Vila Viçosa teve também uma função residencial, já que até 1501 nele habitaram os Duques de Bragança”.

A evolução do tempo

 

Composto por uma edificação marcada ao longo dos séculos, o Castelo de Vila Viçosa apresenta na sua construção a evolução das es- truturas militares em diferentes momentos históricos, como o caso da cerca da antiga vila medieval (Cerca Velha), da Fortaleza Artilheira e de uma cintura de cortina de traçado tenalhado, do século XVII. Segundo o responsável, a Cerca Velha é provavelmente uma construção iniciada no reinado de D. Afonso III, em 1270, e que foi requalificada no reinado de D. Dinis.

O traçado da Fortaleza Artilheira, único em Portugal, deve-se às obras promovidas por D. Teodósio I, composto por traçados de inspiração italiana, através da introdução de baluartes, torreões e canhoeiras, visíveis ao longo da fortificação. Na opinião de Tiago Salgueiro a “arquitetura é idêntica à Fortaleza de Mazagão, em Marrocos”.

Segundo o responsável, desde 1999 encontram-se instalados na Fortaleza Artilheira os Museus de Caça e de Arqueologia, integrados no Museu-Biblioteca da Casa de Bragança e propriedade da Fundação da Casa de Bragança. No interior da Cerca Velha, encontra-se o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal.

 

Curiosidade

 

Segundo Tiago Salgueiro, “diz a lenda que na Rua de Estremoz viveu o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, numa casa com portada de mármore de formato ogival”. Destaque ainda para o facto de que no início do século XX, a população acreditava que uma mulher vivia numa casa do Castelo, chamada Maria Gertrudes, viúva, e que passeava, toda vestida de preto, à noite, pelas muralhas com uma candeia de azeite, para os lados do cemitério, tinha um “pacto” com o Diabo. Os habitantes de Vila Viçosa, e numa altura em que não havia luz elétrica, não se atreviam então a entrar naquele local a “horas mortas”. No entanto, chegou-se à conclusão que Maria Gertrudes era vizinha de um guardafiscal e quando este recolhia a casa, ela dirigia-se à muralha para fazer sinais ao filho, que era contrabandista de profissão, de modo a que este regressasse a casa são e salvo.

Texto original de Raquel Morais.